A cada dois fins de semana, Lavanya Jain, estagiária de 21 anos, abre o aplicativo BlaBlaCar para descobrir uma carona de Noida, na fronteira de Nova Delhi, até sua casa em Kandhla, um vilarejo no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia. A viagem de 120 quilômetros custa cerca de 500, o equivalente a cerca de US$ 6. Essa é uma parte dos 1.500 a 2.000, ou US$ 17 a US$ 23, que ele certamente gastaria em um táxi exclusivo.
“Se você está procurando uma maneira rápida, eficaz, barata e confortável de fazer uma viagem – e gosta de conversar – você deve basicamente dar uma olhada no BlaBlaCar”, disse Jain ao TechCrunch, acrescentando que ele usou o aplicativo cerca de 40 a 50 vezes nos últimos dois anos.
Jain está entre os inúmeros indianos que estão optando pela carona compartilhada de longa distância como uma forma mais acessível e muito mais social de fazer uma viagem entre cidades. Esse aumento tornou a Índia o maior mercado mundial da empresa, com cerca de 20 milhões de visitantes este ano – um aumento de quase 50% em relação ao ano anterior. Com base nessa projeção, o mercado indiano da BlaBlaCar certamente ultrapassaria os 18 milhões de visitantes previstos no Brasil e no seu mercado doméstico, a França.
Para uma empresa que fechou o seu escritório na Índia em 2017, após má aderência, a reviravolta destaca-se.
Na verdade, o crescimento ocorreu muito sem publicidade ou um grupo regional, impulsionado pelo boca a boca, ampliando a acessibilidade à rede móvel e o aumento dos pagamentos eletrônicos e da posse de veículos no centro da Índia.
Pontuações de crédito de imagem: Jagmeet Singh/TechCrunch
A Índia tem mais de 700 milhões de usuários de dispositivos inteligentes e tem visto um forte aumento nos pagamentos eletrônicos, que atualmente representam mais de 99% de todas as compras no país.
Na origem dessa mudança está o sistema de interface de usuário de assentamentos unificados (UPI), apoiado pelo governo indiano, que aprimorou 19,6 bilhões de transferências no valor de cerca de 24,9 trilhões (aproximadamente US$ 284 bilhões) somente em setembro. Na verdade, as vendas de veículos aumentaram paralelamente, chegando a 4,73 milhões de carros em 2024, acima dos 3,87 milhões do ano anterior – um aumento anual de 5,2% e um recorde histórico.
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Outros elementos por trás do rápido desenvolvimento da BlaBlaCar na Índia incluem a capacidade mínima de transporte público do país para seus mais de 1,4 bilhão de habitantes e o crescimento consistente da estrutura rodoviária que está aumentando a conexão entre comunidades menores, sertões e cidades importantes.
“Temos muitos casos de clientes que afirmam: ‘Antes, eu estava voando para um local ou pegando o trem ou abordando todos de outra forma – e agora posso realmente dirigir. Demora três horas e é uma aventura positiva'”, disse Nicolas Brusson, fundador e presidente da BlaBlaCar, em uma reunião.
A BlaBlaCar chegou inicialmente à Índia no início de 2015, estabelecendo um escritório regional em Nova Delhi. A empresa rapidamente lidou com concorrentes acirrados da Uber e da concorrente regional Ola, que estavam testando soluções de car pool e comercializando-as bastante. (A empresa certamente acabaria suspendendo essas soluções de carpool durante os bloqueios do COVID-19.)
Lutando para adquirir controle, a BlaBlaCar retirou seu grupo regional em 2017. Mesmo assim, o aplicativo permaneceu em tempo real – e em 2022, o uso começou a aumentar novamente. Desde então, aumentou de 4,3 milhões de clientes em 2022 para uma previsão de 20 milhões este ano.
A BlaBlaCar na verdade equilibrou 1,1 milhão de clientes ativos mensais na Índia este ano, chegando a cerca de 1,5 milhão em agosto. Aproximadamente três quartos são convidados, enquanto 25% são motoristas. A Índia atualmente representa cerca de 33% dos hóspedes de carpool da BlaBlaCar em todo o mundo, afirmou a empresa.
Fundador e CEO da BlaBlaCar, Nicolas BrussonCréditos da imagem: BlaBlaCar
Em termos de viagens, a BlaBlaCar gravou seu desenvolvimento mais difícil na Índia, com 13,5 milhões de viagens concluídas desde 30 de setembro, acima dos 9,1 milhões durante o mesmo período em 2014. O Brasil ficou um pouco à frente, com 14 milhões de viagens este ano em comparação com 11,7 milhões em 2023, enquanto a França ficou em terceiro lugar com 5,6 milhões de viagens, geralmente no mesmo nível do ano anterior.
“Para nós, o centro de massa mudou de nossos mercados iniciais na Europa Ocidental para locais como Japão, Turquia – e significativamente, Índia”, disse Brusson ao TechCrunch.
Embora a BlaBlaCar ainda não produza lucros na Índia, os motoristas em seu sistema ganharam cerca de 713 milhões (cerca de US$ 8 milhões) somente em agosto, afirmou a empresa. Normalmente, os motoristas ganham cerca de 390 (aproximadamente US$ 4) por assento na Índia, com uma autonomia média de viagem de 180 quilômetros (cerca de 112 milhas).
Em contraste, as receitas típicas dos motoristas têm a ver com 15 euros (cerca de 17 dólares) em França e aproximadamente 6,5 euros (aproximadamente 7 dólares) no Brasil, embora as distâncias de viagem sejam geralmente comparáveis na Índia e no Brasil e muito mais curtas do que o padrão francês de cerca de 250 quilómetros (aproximadamente 155 milhas). A distinção, afirmou a BlaBlaCar, reflete a redução do poder de compra regional e as premissas de partilha de custos na Índia.
Quase 70% dos clientes indianos da BlaBlaCar têm entre 18 e 34 anos e cerca de 95% das tarefas acontecem por meio de seu aplicativo móvel. Aproximadamente cinquenta por cento de todas as experiências na Índia acontecem ao longo dos 15 cursos intermunicipais mais movimentados do país, enquanto os outros cinquenta por cento se originam fora das 150 principais passagens – prova da expansão que passa por grandes cidades e chega a cidades menores. Entre os cursos mais movimentados estão Pune– Thane e Pune– Nashik em Maharashtra, Bengaluru– Chittoor em Andhra Pradesh e vários outros que conectam instalações metropolitanas de médio porte.
“Sem pressa” para começar a monetização
Sede da BlaBlaCar em ParisPontuações de crédito de imagem: BlaBlaCar
Apesar de todo esse desenvolvimento, a BlaBlaCar não pretende permitir que dinheiro ganhe dinheiro na Índia tão rapidamente.
“Não temos pressa em começar a apresentar um preço ou produzir lucros na Índia. Estamos focados em gerar uso e temos a reprodução porque fizemos isso em vários mercados”, disse Brusson ao TechCrunch.
No entanto, a BlaBlaCar pretende estabelecer o seu escritório regional na Índia e ter a primeira contratação até ao final deste ano ou no início do ano seguinte, afirmou Brusson.
A BlaBlaCar não considera sistemas de carona como Uber e Ola como seus rivais na Índia. Brusson os descreveu como produtos “guiados pela demanda”, enquanto a BlaBlaCar, afirmou ele, é “guiada pela oferta”. Em vez disso, a empresa vê pessoas dirigindo seus próprios veículos – ou escolhendo trens e ônibus convenientemente disponíveis – como seus principais substitutos.
Obstáculos em seu caminho para o sucesso
A BlaBlaCar ainda encontra alguns obstáculos na Índia.
As políticas estaduais em torno do carpooling não são claras, o que na verdade colocou a solução em análise em algumas cidades. Alguns clientes, incluindo Jain, reclamaram que pode ser difícil entrar em contato com o atendimento ao consumidor da BlaBlaCar, que geralmente responde com mensagens automáticas. A empresa informou ao TechCrunch que administra um “design combinado”, com um grupo regional terceirizado cuidando da maioria das consultas diárias e uma equipe menor em sua sede em Paris cuidando das preocupações das instalações e verificações de alta qualidade.
A BlaBlaCar apresentou uma função ID Inspect na Índia para validar as identificações dos clientes através de registros emitidos pelo governo – um dispositivo que mais tarde foi apresentado internacionalmente. No entanto, o TechCrunch descobriu que os usuários ainda podem publicar ou liberar uma viagem mesmo se a verificação de identidade for insuficiente.
“Esta é uma escolha de layout calculada para facilitar o envolvimento de novos participantes no sistema”, afirmou a empresa em ação. “A confirmação de identidade é apenas um componente de nossa estrutura de dependência e segurança mais abrangente; não dependemos de uma função solitária, mas de vários dispositivos divididos que colaboram para desenvolver a autoconfiança em nossa área.”
Pontuações de crédito de imagem: Jagmeet Singh/TechCrunch
A empresa incluiu que mais de 70% das viagens na Índia são feitas com motoristas que já concluíram a confirmação de identidade do governo federal. A BlaBlaCar também apresenta avaliações e classificações de clientes e confirma contas por meio de números de contato e endereços de e-mail.
“Instamos proativamente os participantes a finalizarem todas as ações de confirmação, pois contas totalmente validadas – com imagem e documento de identidade – aumentam consideravelmente as oportunidades de descoberta de carpoolers. Contas que não possuem esses aspectos tendem a obter menos reservas”, afirmou a empresa.
Alguns clientes da BlaBlaCar na Índia também relatam irritação quando motoristas ou visitantes encerram viagens na hora certa, muitas vezes também depois de chegarem ao ponto de conferência. Além disso, o aplicativo não possui função de compartilhamento de local em tempo real, o que Jain lembrou que restringe o uso do BlaBlaCar para quem tenta publicar experiências em nome de parentes ou amigos.
A BlaBlaCar ajustou seu item para melhor atender aos clientes indianos, apresentando funções como “raciocínio de ponto de encontro” para tornar o controle ainda mais fácil. Ao contrário de países como a França, onde existem áreas designadas para partilha de carros, a Índia não trata dos locais de recolha. Motoristas e convidados geralmente aceitam encontros em áreas descomplicadas ao longo do percurso – um terminal de gás, por exemplo, ou perto de uma saída de rodovia. O aplicativo atualmente recomenda e apresenta essas áreas utilizando uma combinação de fórmulas de aprendizado de máquina e informações do cliente, ajudando a reduzir desvios e a se alinhar com a estrutura local da Índia, afirmou a empresa.
Em todo o mundo, a BlaBlaCar prevê chegar este ano a cerca de 150 milhões de visitantes, constituídos por clientes dos seus serviços de autocarros, que circulam em mercados como a França, mas ainda não são oferecidos na Índia. À medida que a BlaBlaCar expande o seu impacto mundial, o aumento inesperado da Índia colocou-a no centro do próximo estágio de desenvolvimento da empresa.
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