Antes de ser palco de centenas de espetáculos teatrais, de dança, festivais e outras linguagens das artes cênicas e da música, a Aldeia de Arcozelo, antiga fazenda da Freguesia, foi cenário da maior rebelião de escravos da região, liderada por Manoel Congo, que acabou preso e enforcado. Datada dos anos 1700, a casa sede da antiga fazenda, construída em taipa, ainda se mantém de pé, apesar de sua idade. Naquela época a fazenda pertencia a Emanuel Francisco Xavier, cultivador e exportador de café, que também construiu a igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição, outro monumento histórico do município, tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Conta-se que seu filho perdeu a propriedade na mesa de jogo para o Barão de Arcozelo. Em 1930 foi transformada em fazenda de gado leiteiro. Mas, foi em 1958 que Paschoal Carlos Magno, Embaixador da Cultura, recebeu em doação pelos netos do antigo proprietário, João Pinheiro, na condição de levar a cabo seu projeto de criar um centro cultural no local.
Em 1965 foi inaugurada a Aldeia de Arcozelo, um local com dois grandes teatros, Itália Fausta, anfiteatro ao ar livre, com capacidade para 1.200 espectadores, e Renato Vianna, com palco italiano e capacidade para 240 pessoas. Havia ainda a Sala de Música Padre José Maurício, para 150 ouvintes; os espaços para as artes plásticas, Galeria Pancetti e Galeria Bernardelli; uma sala de vídeo, Alberto Cavalcante, com 80 lugares; biblioteca, coreto, uma capela em homenagem a São Francisco de Assis, santo da devoção do embaixador, o Poema Bar, um refeitório gigantesco e acomodações para mais de 200 pessoas, além do edifício colonial, com 54 quartos, salões e varanda, casa sede da antiga fazenda.
Após vários anos de lutas para manter o local, com a morte de Paschoal em 1980, o centro cultural foi entregue por seus herdeiros ao MEC - Ministério da Educação e Cultura e passou a ser administrado pela Funarte - Fundação Nacional de Arte.
Nos últimos anos a Aldeia de Arcozelo foi mantida fechada para eventos e visitações, pelo seu estado de conservação representar perigo de desabamentos.
Na última quinta-feira (11) o telhado do Teatro Renato Vianna desmoronou, levando junto o da sala de música e da galeria de arte. Ninguém foi atingido. O acontecimento trouxe o presidente da Funarte, o cineasta Lamartine Holanda e o Secretário Municipal de Cultura de Paty do Alferes, Henrique Gonçalves, para avaliar o estrago. Ambos disseram que haverá um esforço conjunto para medidas de recuperação do patrimônio histórico e cultural do país.
Segundo Lamartine, a Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ, fizeram um estudo em conjunto e preparam um relatório para a recuperação e reforma de toda a Aldeia de Arcozelo.
O secretário Henrique e o presidente Lamartine se propuseram a não medir esforços para salvar o sonho de Paschoal, que acabou virando um pesadelo para todos nós.
Quando estivemos no local, eu e Helio de Carvalho, representando o ED, a cena foi de cortar o coração, como mostro nas fotos. Ver o teatro que tantas vezes atuei sobre aquele palco, me veio um sentimento horrível de perda: perda da história, da cultura e da minha trajetória artística.
Prédio da Câmara Municipal
Outro patrimônio patyense, o antigo prédio da Câmara Municipal, que também quase desmoronou, está passando por um processo de reforma da fachada e construção de três anexos, pela prefeitura.
Acontecimentos como estes nos levam a pensar como a Cultura em nosso país é frágil, se não houver a merecida manutenção periódica.
É necessário um esforço conjunto, tanto da sociedade, quanto de artistas e poder público, para que preservemos nossos patrimônios culturais.
Nos resta, nesse momento, soltar o grito engasgado na garganta: SALVEMOS A ALDEIA DE ARCOZELO! SALVEMOS CADA PATRIMÔNIO CULTURAL DE NOSSO MUNICÍPIO E DO NOSSO PAÍS!