O próximo longa de animação de Rafhael Barbosa, “Utopia”, contou com a participação da elogiada atriz brasileira Rejane Faria e do âncora franco-angolano Matamba Joaquim. Faria estrelou “Mars One”, de Gabriel Martins, no Sundance, e “A Melhor Mãe do Mundo”, de Anna Muylaert, na Berlinale, enquanto Joaquim estrelou “O Cativo”, de Alejandro Amenábar. A produção também garantiu Anderson Mahanski, responsável pelo sucesso de animação da Netflix “Super Drags”, como diretor de animação e produtor associado.
“Utopia” foi selecionado como um dos projetos de pitching da Ventana Sur Animation!, a seção do importante mercado de Buenos Aires dedicada a promover o cinema e a TV latino-americanos no cenário internacional.
O filme, escrito por Barbosa ao lado de Werner Salles, se passa em 1695 e mostra uma família de escravos organizando uma rebelião para fugir em busca do utópico Quilombo dos Palmares a partir de um chamado do leme espiritual. O grupo percorre um caminho arriscado para encontrar o quilombo no auge de uma grande guerra. Mas a guerra não é o fim.
“Utopia,” courtesy of La Ursa Cinematográfica
Falando com a Variety antes de Ventana Sur, Barbosa destaca como a história se passa “no refúgio mais duradouro e organizado para africanos escravizados fora da África”. “É uma comunidade que liderou o maior movimento de resistência contra a escravidão no Brasil. O filme busca não apenas levar essa narrativa ao público contemporâneo, mas também reinterpretá-la sob uma perspectiva afrofuturista e afrosurrealista.”
Barbosa diz que a equipe adotou uma mistura de técnicas para “Utopia”, predominantemente animação recortada em 2D. “No entanto, a camada onírica do roteiro permite a experimentação de diferentes estilos. Construímos os sonhos e visões dos personagens em 2D quadro a quadro, em um estilo mais subjetivo e poético do que as outras camadas da história.” Entre as referências do projeto estão “Uma História de Amor e Fúria”, vencedor de Annecy, do brasileiro Luiz Bolognesi, “Apocalypto”, de Mel Gibson, “Zarafa”, de Rémi Bezançon e Jean-Christophe Lie e, com destaque, a animação angolana “Nayola: Em Busca da Minha Ancestralidade”, de José Miguel Ribeiro.
“Um dos segmentos mais elitistas dentro de uma arte já elitista como o cinema, a animação tem um notável déficit de profissionais negros em suas fileiras”, acrescenta o diretor. “Um dos pontos fortes de ‘Utopia’ é o compromisso em mapear e reunir uma equipe de animadores negros em torno de um projeto forte.”
O selo de Barbosa, La Ursa Cinematográfica, é dedicado a produções originais de artistas negros emergentes, com projetos que trazem abordagens contemporâneas de histórias negras para desconstruir estereótipos. Também se concentra em mudar a percepção do estado natal de Barbosa, Alagoas, tanto no cenário nacional quanto no internacional. “Esperamos estabelecer fortes parceiros de coprodução nos próximos anos, à medida que os recursos no Brasil se tornarem mais específicos localmente, permitindo-nos crescer e expandir nossas produções para competir no cenário global”, acrescenta o diretor.
Um estado emergente, Alagoas está passando por um momento agitado seis décadas depois de seu produto de exportação mais famoso, Cacá Diegues, ter se tornado um dos fundadores do florescente Cinema Novo do Brasil. Este ano, Alagoas teve presença histórica em Cannes, com “A Cowgirl, a Showgirl e o Porco”, de Stella Carneiro, na Quinzena dos Realizadores, “Não Sonhamos”, de Ulisses Arthur, selecionado para Vai a Cannes e “Infantaria”, de Laís Araújo, selecionado para o programa La Fabrique Cinéma.

“Utopia,” courtesy of La Ursa Cinematográfica
La Ursa é uma força motriz na região. Ao lado do Estúdio Núcleo Zero, produziu “Cavalo”, de Barbosa, primeiro longa-metragem dirigido por um homem negro e produzido com financiamento público no estado. A gravadora está atualmente trabalhando em outros cinco longas além de “Utopia”, incluindo o filme de fantasia de Barbosa “Olhe para Mim”, que está em pós-produção, e o longa de estreia de Stella Carneiro “Filhas do Mangue”. La Ursa também está coproduzindo o longa de ficção científica “Como montar uma cena”, de Werner Salles, com o Estúdio Núcleo Zero.
“Utopia” is produced by La Ursa Cinematográfica in co-production with Estúdio Núcleo Zero and Grão Filmes. Producers are Adriana Pinto, Juliana Lemes, Júnia Matsuura and Felipe Guimarães, with Anderson Mahanski as an associate producer. The film was awarded the Guilherme Rogato Prize by the city of Maceió, receiving funds from Brazi’s federal Audiovisual Sector Fund (FSA/Ancine) for its production, as well as securing funding from the Paulo Gustavo Law, through the State of Alagoas in the Brazilian northeast.



