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Trump e Lula conversam por telefone para discutir tarifas dos EUA sobre o Brasil e sanções

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Trump e Lula conversam por telefone para discutir tarifas dos EUA sobre o Brasil e sanções

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizaram que as relações entre os dois países estão a melhorar, após meses de tensões económicas e políticas.

Na terça-feira, os dois líderes realizaram um telefonema de 40 minutos que cada lado descreveu como “produtivo”.

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A redução das barreiras comerciais e o combate ao crime organizado estiveram entre os temas discutidos. Os dois homens concordaram que voltariam a falar em breve.

“Enfatizei a urgência de fortalecer a cooperação com os EUA para combater o crime organizado internacional”, disse Lula numa postagem nas redes sociais após a ligação.

“O presidente Trump ressaltou sua total disposição em trabalhar com o Brasil e que dará total apoio às iniciativas conjuntas entre os dois países para enfrentar essas organizações criminosas.”

Trump, entretanto, sinalizou que a conversa se baseou num diálogo iniciado em Setembro, à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), na cidade de Nova Iorque.

“O presidente Lula e eu estabelecemos uma relação numa reunião que teve lugar nas Nações Unidas, e acredito que preparou o terreno para um diálogo e um acordo muito bons no futuro”, escreveu Trump na sua plataforma, Truth Social.

“Estou ansioso para vê-lo e falar com ele em breve. Muita coisa boa resultará desta parceria recém-formada!”

Tensões sobre Bolsonaro

O Brasil e os EUA têm geralmente laços fortes, mas esse vínculo sofreu turbulência no início deste ano, depois de Trump ter regressado à Casa Branca para um segundo mandato como presidente.

Trump, um republicano, promoveu relações estreitas com o ex-presidente de direita do Brasil, Jair Bolsonaro, que deixou o cargo em 2023.

Em fevereiro, porém, o procurador-geral do Brasil apresentou acusações contra Bolsonaro por tentar anular os resultados das eleições presidenciais de 2022, que perdeu para Lula.

Seu caso foi ouvido por um painel de cinco membros da Suprema Corte do Brasil.

Trump protestou contra o julgamento e, em julho, ameaçou aumentar as tarifas sobre certas exportações brasileiras para 50% se o caso não fosse arquivado. Essas tarifas entraram em vigor em agosto.

Os EUA também impuseram sanções e restrições de vistos a um dos membros do Supremo Tribunal do Brasil, Alexandre de Moraes, que desempenhou um papel proeminente na investigação de Bolsonaro.

Em resposta, Lula criticou Trump por interferir no sistema judiciário brasileiro e comparou as tarifas a “chantagem”.

Desde então, Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão e foi levado sob custódia no mês passado.

Uma distensão nas relações?

Um ponto de viragem pareceu ocorrer em Setembro, quando Lula e Trump partilharam um breve encontro na AGNU.

Eles trocaram um abraço e os dois homens expressaram surpresa com o calor do encontro.

“Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo”, disse Trump na conferência da ONU. “Eu o vi. Ele me viu. E nós nos abraçamos.”

Trump acrescentou que eles tinham “excelente química” e prometeu reencontrar Lula. “Ele parecia um homem muito bom, na verdade”, disse Trump. “Ele gostou de mim. Eu gostei dele. E só faço negócios com pessoas de quem gosto.”

Posteriormente, os dois líderes reuniram-se novamente na Malásia para uma conferência da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).

E em 20 de Novembro, Trump anunciou que iria reduzir o aumento das tarifas sobre certos produtos agrícolas brasileiros, incluindo café, cacau e carne bovina.

Na terça-feira, Lula elogiou a redução tarifária como “muito positiva”, mas enfatizou que há mais a ser feito.

“Ressaltei que ainda existem outros produtos tarifários que precisam ser discutidos entre os dois países”, disse Lula. “O Brasil quer avançar rapidamente nessas negociações.”

Por sua vez, Trump sinalizou que discutiu as “sanções impostas a vários dignitários brasileiros” na conversa com Lula.

Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China, e em 2024, os dois países trocaram aproximadamente 127,6 mil milhões de dólares em bens e serviços.

Embora Trump tenha criticado as políticas económicas do Brasil como desvantajosas para os EUA, o país sul-americano tem um défice comercial acentuado com os EUA.

Os EUA exportam quase 91,5 mil milhões de dólares para o Brasil, em comparação com apenas 36,1 mil milhões de dólares em exportações brasileiras para os EUA.

Colaboração no crime organizado

Outro pilar da discussão de alto nível de terça-feira foi a perspectiva de uma maior colaboração no domínio do crime organizado.

Trump fez do combate às redes criminosas na América Latina um item importante da sua agenda de política externa. Desde que regressou ao cargo, passou a designar numerosos cartéis e gangues latino-americanos como “organizações terroristas estrangeiras”.

Ele também lançou uma série de ataques aéreos contra barcos e outras embarcações náuticas no Mar do Caribe e no leste do Oceano Pacífico, ao longo da costa sul-americana.

Embora Trump tenha enquadrado a campanha de bombardeamento como um baluarte necessário contra o tráfico de drogas, os especialistas em direitos humanos qualificaram os ataques de execuções extrajudiciais, em violação do direito internacional. Pelo menos 83 pessoas foram mortas nos ataques.

O próprio Lula tem enfrentado pressão para combater a criminalidade no Brasil, antes da sua candidatura à reeleição em 2026.

Em Novembro, por exemplo, apelou aos legisladores do Congresso brasileiro para que adoptassem legislação mais forte para combater as redes criminosas. Suas propostas incluíam mais apoio à Polícia Federal e à comunidade de inteligência do Brasil.

“Precisamos de leis firmes e seguras para combater o crime organizado”, disse Lula em postagem de 19 de novembro nas redes sociais.

Ainda assim, o governo brasileiro tem enfrentado escrutínio devido a uma sangrenta operação policial no Rio de Janeiro, em 28 de outubro, que deixou 122 pessoas mortas.

Lula pediu uma investigação sobre o incidente, que tinha como objetivo combater uma organização criminosa conhecida como Comando Vermelho.

Após a conversa de terça-feira, porém, Lula reiterou que está empenhado em “sufocar” as redes criminosas em seu país, com a ajuda dos EUA.

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