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Onde a Amazônia encontra o oceano: uma comunidade brasileira luta contra as marés crescentes

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Onde a Amazônia encontra o oceano: uma comunidade brasileira luta contra as marés crescentes

Publicado em 10 de novembro de 2025

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Na Ilha do Marajó, na confluência do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico, no norte do Brasil, a vida diminui e flui com as marés.

Por mais de quatro décadas, Ivanil Brito encontrou o paraíso em sua modesta palafita, a apenas 20 metros da costa, onde ela e seu marido Catito pescavam, cultivavam e cuidavam do gado.

“Eu era uma pessoa muito feliz naquele pedacinho de terra. Aquele era o meu paraíso”, diz ela.

Esse paraíso desapareceu durante uma violenta tempestade em Fevereiro de 2024, quando águas implacáveis ​​invadiram a vila da Vila do Pesqueiro, erodindo a costa que nutrira gerações. “Mesmo que não tenhamos ido muito longe, parece um mundo completamente diferente”, diz Ivanil do seu novo assentamento, a menos de um quilómetro (meia milha) para o interior. “Esta é uma área de mangue – mais quente, mais barulhenta e não um lugar onde possamos criar animais ou cultivar.”

A Vila do Pesqueiro, onde vivem cerca de 160 famílias, fica dentro da Reserva Extrativista Marinha de Soure, área protegida do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Estabelecida para preservar os modos de vida tradicionais e a gestão sustentável dos recursos, a reserva enfrenta agora a dura realidade das alterações climáticas. Embora a pesca continue a ser o principal meio de subsistência, a gastronomia local e o turismo proporcionam rendimentos suplementares aos residentes. No entanto, a intensificação das marés e a aceleração da erosão ameaçam a sua existência.

Para Jhonny, filho de Ivanil, pescador que estuda biologia na Universidade do Pará, no campus Marajó-Soure, essas transformações são preocupantes. “O lugar onde ficavam nossas casas agora está submerso”, diz ele. “Para mim, mudar não é apenas uma questão de segurança – trata-se de proteger o lugar e as pessoas que moldaram a minha vida.”

Entretanto, moradores como Benedito Lima e a sua esposa Maria Lima optaram por permanecer, apesar da sua casa estar agora perigosamente perto da beira da água. Partir significaria renunciar ao seu sustento. “Cada nova maré sacode o chão”, diz Benedito, olhando para o que costumava ser um canal distante e seguro. “Esta ainda nem é a temporada de maré alta.”

A adaptação climática aqui assume várias formas. Alguns reconstroem mais para o interior, enquanto outros ajustam as suas rotinas diárias para acomodar o avanço do mar. A líder comunitária Patricia Ribeiro acredita que uma resiliência coletiva sustenta a Vila do Pesqueiro. “Nossas histórias sempre foram transmitidas de geração em geração”, diz ela. “Esta é a nossa casa, nossos ancestrais. Queremos ficar aqui para proteger o que nossas famílias construíram. Enquanto estivermos juntos, não desistiremos.”

Enquanto o Brasil se prepara para acolher a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30) na vizinha Belém, comunidades como a Vila do Pesqueiro exemplificam o que está em jogo. Através das suas iniciativas, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirma que apoia esforços para aumentar a resiliência, proteger os meios de subsistência e garantir que estas famílias possam continuar a viver em segurança nas suas terras ancestrais.

Esta galeria de fotos foi fornecida pela Organização Internacional para as Migrações.

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